O Doce Sabor do Sexo
[frente à câmera]
… é um serviço, como qualquer outro, prestado à sociedade desde que o mundo existe. Não sei por que essa mesma sociedade, que fomenta o serviço do sexo, o demoniza ou dramatiza. Fui garota de programa por opção. Porque gostava de fazer sexo, quanto mais melhor. Sou oriunda de uma família de pequena classe média, religiosa (aos domingos culto no templo), estável e nada disfuncional. Em suma, eu não optei pela prostituição porque estava passando fome. Fiz o que fiz porque queria mesmo. E me dei bem. Nem todas se dão bem. Hoje em dia estou numa situação financeira tranquila. No fundo, é uma questão de administrar bem o produto do sexo. E isso vai da escolha do cliente até os investimentos. Estudei e me formei em Letras. E ter uma certa cultura geral também é um trunfo na cama, além da beleza física e da arte de fazer sexo e deixar os homens satisfeitos. Não. A minha família não desconfiava. Foi tudo bem planejado. Entrei na faculdade aos 18 anos. Estudava de manhã. Exercia a profissão à tarde. E à noite ficava em casa, como uma boa filha e uma boa irmã. Quando começaram a desconfiar, eu já tinha me formado. Um ano antes da formatura mudei-me para outra cidade. Comprei um apartamentinho. E passei a trabalhar à noite e, eventualmente, à tarde para alguns clientes. Aí é claro que meus pais já estavam mais do que desconfiados. Como é que a filha ganhava tanto dinheiro dando aulas particulares de inglês e português? Então abri o jogo. Sim, a filha primogênita tinha virado prostituta e era a vergonha da família. Foi um escândalo. Deixei passar o tempo. O tempo sempre ajuda em apaziguar determinadas crises. Um dia minha mãe me telefonou. Estava com saudades de mim. Respondi que eu também estava. Houve vários contatos telefônicos. As relações começaram a ficar menos tensas. Um dia a convidei para me visitar. Ela aceitou. O encontro foi emocionante. Obviamente ela não tocou no meu lado profissional. Mas ficou impressionada com meu novo apartamento. Bonito e confortável, sem ser de luxo – sempre tive os pés no chão, ou seja, nunca me deslumbrei. Quando ela foi embora, dei-lhe um belo presente. E os presentes foram se tornando extensivos para toda a família que, discretamente e com restrições, foi aceitando os serviços prestados da filha. Enfim, uma história decente que termina bem. Hoje, madurona (mas ainda não velha) curto a vida, me permito amar, viajo e fico de olho nos investimentos e no aluguel de minhas propriedades imobiliárias. Sim, conheci centenas de homens na cama ao longo de minha carreira sexual. E certamente não os conheci só biblicamente, mas animicamente. Digamos que da cama para o mundo. No fundo, os homens, sejam negros, amarelos ou brancos, são todos iguais. Em outras palavras, eu, cujo nome de guerra era Lola (nada original para uma prestadora de serviços sexuais), dei sorte.
23-07-22
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